Outro dia, dei por mim a pensar na forma como eu reajo perante a homossexualidade. Eu e o J. estávamos a caminhar pela Baixa do Porto e por nós passou um casal gay, de mãos dadas. Eu reagi normalmente, mas admito que aquilo ainda me causou alguma estranheza - não por qualquer tipo de preconceito, mas por ser (ainda e para o meu dia-a-dia) novidade ver essa coragem para assumir publicamente e sem qualquer pudor uma orientação sexual diferente da generalidade. O casal era um pouco estranho, admito: um rapaz novo, muito efeminado nos trejeitos e expansivo e um homem mais velho, meio envergonhado, calmo e que em nada denunciava a sua orientação. Também por isto se tornou mais estranho. Às tantas, comecei a pensar se a estranheza que eu sentia advinha da homossexualidade assumida ou da diferença de estilo e modos de estar destas duas pessoas. Acabei por concluir que era um misto das duas.
Eu aceito bem a homossexualidade. Eu acato bem ver um casal gay a passear, de mãos dadas, mas não vou dizer que olho para essa realidade com a mesma naturalidade com que vejo (e quase nem ligo) um casal heterossexual, simplesmente porque não fui habituada a ver isso. Não olho com preconceito, olho com curiosidade por ser uma coisa diferente do que já é banal. Não viro a cabeça e fico a comentar, não páro só para ver, não faço caras estranhas quando algum casal gay assumido passa por mim, mas também não ajo da mesma maneira face a outros casais, sou franca. Não demonstro, mas observo. Tenho curiosidade pelo que é diferente, sempre fui assim.
Quando estudei na Alemanha, vi muitas coisas que nunca tinha visto (calma, que não chega a tanto!), sobretudo uma naturalidade incrível face à homossexualidade. [Vi também coisas que preferia não ter visto.] Para os alemães, é perfeitamente natural ver casais gay na rua, sem qualquer pudor (às vezes em demasia, até!). Quando fui com uma amiga a Berlim em 2006, reparei que há roteiros especiais para Gays e Lésbicas na cidade e tudo decorre com a mais absoluta normalidade. Muito estranho para nós na altura, como imaginam, mas muito sensato, também. Tenho a grande vantagem de ter uma mente aberta e um pensamento ao género germânico, muito pragmático e determinado, o que ajuda a aceitar estas realidades. Há coisas que não gosto de ver, mas que são comuns a quaisquer tipo de casais, tipo beijos e demonstrações de afeto demasiado efusivas em público. Mas não vou fingir que tudo é banal e igual para mim. Não é. A questão é que essa diferença não é, em momento algum, negativa. Pelo contrário, é até bastante satisfatória. É sinal que a sociedade está mesmo a mudar e que nos estamos a deixar de repúdios estúpidos.
Não sou nada crítica quanto à homossexualidade, nem julgo ninguém à conta disso. Respeito toda a gente, assim como espero que me respeitem a mim. Mas sou curiosa, como acho que todos somos (mesmo que quase ninguém admita). Acho corajoso e fico feliz quando vejo as pessoas assumirem o que são, porque todas as opções são pessoais e cada um deve manter-se fiel ao que é, e não os que os outros esperam que ele seja. E, sobretudo, porque é preciso ser-se muito Homem e muito Mulher para se demonstrar que se está disposto a rumar contra a maré apenas para se ser feliz.