Há uns dez anos, encontrei um antigo colega de escola que, depois daquela conversa inicial de "Há tanto tempo que não te via!" me perguntou o que fazia. Quando lhe disse que era professora e que dava formações em empresas, ele disse de imediato, da forma mais espontânea e, portanto, mais incontida: "Ah, professora... Sempre te imaginei num emprego diferente, investigadora ou assim. Eras brilhante na escola, sempre te vi numa posição de topo." Aquilo na altura ficou-me a moer, mas, como estava a fazer algo de que gostava e ainda acreditava que as coisas iam mudar e que iria conseguir trabalhar plenamente na minha área, porque tinha mérito e valor para isso, permaneci entusiasmada e segui o meu caminho.
Agora, "caída a ficha", sei que ele poderá ter alguma razão no que disse. Hoje, perante um descontentamento (que, espero, seja temporário) com a vida e as opções profissionais que se "abrem" à minha frente - que são praticamente nulas, em boa verdade - e perante um desabafo mais incontido com o J., ele disse-me "Tu tens capacidade para tanto, que ali, no teu Centro, te estás a desvalorizar, quando tens determinação e mérito para muito mais.". Se já estava desanimada, não fiquei muito melhor, mas percebi a intenção. Talvez haja aqui um fundo de razão. Sei que tenho bastante valor e boas capacidades para trabalhos bem mais exigentes a todos os níveis e aqui, por vezes, sinto-me a desanimar e a "baixar os braços". Todos os dias procuro manter esta "chama" de ter uma empresa minha acesa, mas receio estar a ser ofuscada pelo apego que tenho ao que criei, de raiz, sozinha. Parece um daqueles tipos de relação que, apesar de sabermos que devíamos largar, ficamos presos, para não deixar o outro desamparado. É um pouco isto.
Estou numa grande luta interior, sobretudo porque sei que sou capaz de muito mais e que queria evoluir e, aqui, não tenho espaço para isso. Sinto-me no meio da ponte, sem saber em que direção seguir. Tenho a noção do que valho, do mérito que tenho e da qualidade do trabalho que faço. Sei-o e sou reconhecida por isso. Mas chegará isto para que eu seja feliz e me sinta realizada? É que mais do que a profissão, trata-se da minha vida. Se não sou feliz no trabalho, não o consigo ser em lado algum.
(E, entretanto, ando por aqui a sorrir para os outros.)
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