Quando mudamos para uma nova casa, especificamente para um apartamento, temos aquela fase chata de não conhecermos os vizinhos e de sermos sempre vistos um pouco "de lado" por quem já lá vive há anos. Essa sensação de que somos os maiores criminosos dos últimos séculos obriga-nos a criar ali uma máscara invisível, que temos de usar para mostrar aos outros que aquilo não nos incomoda. Em contrapartida, quando somos pessoas calmas e naturalmente simples (como achamos que somos), a coisa deveria correr melhor, mas a verdade é que nos vemos nesse papel mascarado muitas vezes. Não é ter nada a provar a alguém; é, sim, mostrar que somos o que somos e que ninguém tem nada a temer ou razões para desconfiar.
No entanto, e sendo a primeira vez que ambos vivemos num prédio com elevador, damos por nós a tentar, quase sempre, deixar passar os elevadores que já sigam com pessoas, a fim de evitar os conhecidos silêncios constrangedores entre quem não se conhece e - pior! - desconfia de quem não conhece. Apesar disso, eu ainda vou fazendo um esforço para não me afastar muito dos elevadores e, em consequência, vivo os meus momentos estranhos. Ou, como dirão alguns, estou a pedi-las.
Há dias tive o meu último momento "Awkward!!" no elevador. Não bastasse o espaço ser pequeno e mal dar para duas pessoas, eu ainda ia carregada de compras e tinha o computador às costas. Entra um casal que, ao ver-me já no elevador, resolveu, ainda assim, entrar. Pormenor: tinham uma criança de 3 anos ao colo. Portanto, éramos quatro (quase cinco, pelo volume das coisas que eu levava) e um silêncio incómodo ao longo de 7 andares. A criança a olhar fixamente para mim e para as coisas que levava, eu a tentar brincar com ela apenas um pouco, os pais a olhar para mim de forma "Não te metas com o nosso filho" e só a sorrir de forma forçada, depois o pai passa a olhar para o chão, a mãe para o teto, o bebé para mim... Saí no meu andar e percebi que eles estiveram "à coca" a ver em que porta eu entrava. Percebi, depois, que eles são os nossos vizinhos de cima, o que explica muita coisa. Enfim, momento estranho e dispensável, sobretudo a parte em que deram a sensação de não terem qualquer interesse em serem simpáticos. Vá-se lá perceber porquê.
Portanto, eis a parte chata de se mudar para um novo apartamento: seremos sempre, e por um longo período, os alvos a abater pela vizinhança, até que esta se aperceba de que não deve temer o que quer que seja. Percebo até consigo concordar em parte. Podia era ser de forma menos evidente, isso era.
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