Não sou (nem me lembro de alguma vez ter sido) uma daquelas pessoas que recebe muito os outros em casa. Admito, não tenho este perfil. Não é porque não goste - aliás, adoro estar rodeada das minhas pessoas queridas - mas acho que assumi sempre esses momentos como especiais e, por isso, nunca tive por hábito torná-los muito regulares e, com isso, banalizá-los. Pode parecer ridículo, mas é assim que vejo as coisas. Não gosto daquelas situações em que as pessoas têm sempre as portas de casa "abertas" para receber quem queira aparecer. E não gosto que quem visita sinta que pode aparecer quando queira, sem pré-aviso. Serei complicada?
Talvez por uma questão de hábito, eu não sinta que tenha de estar sempre com as pessoas todos os fins de semana, sextas feiras ou domingos. Não gosto desta ideia de se ir sempre às mesmas "igrejas" em dias estipulados. E, mais do que isso, detesto ver a cara desanimada das pessoas a dizerem-me coisas como "Nesse dia não posso, porque é dia de estar com X." ou "Só se for domingo, porque sábado é dia de ir a casa de Y". Da mesma forma que o domingo não é dia de assado para mim - porque, caramba, eu posso fazer um assado quando quiser! - ou uma sexta feira não é dia de limpezas, também não tenho dias para estar, convidar, ir almoçar, jantar, passear ou fazer o que me apetecer com quem eu quero! Recordo-me de várias situações em que isto me revoltou na minha vida e sei, por isso, que é uma coisa muito minha.
Se isto para mim é claro e inquestionável, para algumas pessoas à minha volta não o é. E isso gerou, no início da nossa relação, uma certa confusão ao J., por exemplo. Ele é uma pessoa de um meio pequeno, onde toda a gente conhece toda a gente e onde uns têm por hábito ir e estar nas casas dos outros, sempre que há tempo disponível. Eu sou de um meio mais citadino e estou habituada a aproveitar os tempos livres à minha maneira e a comunicar com família e amigos muito por telefone, mail, etc.. É raro reunirmo-nos pessoalmente, mas estamos sempre em contacto uns com os outros, caso seja necessário algo ou apenas apeteça conversar. Sou extremamente dedicada às pessoas que amo e não sinto que, ao fazer isto, esteja a falhar no que quer que seja - eu estou sempre "lá".
Em termos de laços, estamos iguais. A questão aqui é que eu, pela minha forma de estar, sou entendida, por vezes, como estando mais afastada, quando, no fundo, estou apenas a ser eu mesma. Não gosto de estar sempre metida na casa dos outros, nem de estar sempre com toda a família, nem de ir sempre aos mesmos sítios, nem de viver quase com um planeamento dos meus tempos livres (que, assim, o deixariam de ser). Felizmente, e apesar de não ter sido fácil, o J. compreendeu que isto nada tinha a ver com a forma como eu via as pessoas, mas apenas com a minha forma de estar na vida.
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Agora, com o passar da idade, tenho cada vez mais vontade de fazer convívios em nossa casa, em vez de na casa dos outros. Sempre fui caseira, mas a idade - ou as hormonas! - fazem-me, aos poucos, querer ficar cada vez mais no meu "ninho" e receber aí, de braços abertos, todos os amigos e familiares de quem muito gosto. No entanto, penso que nunca conseguirei atingir aquele estado - que muitos acham bem , mas eu não - de "estou sempre disponível para vos receber!", "Mi casa es su casa" e por aí fora. Isso é coisa que nunca conseguirei digerir ou adaptar à minha vida. Se há lugar que preservo muito é o nosso canto, o nosso lar e nele todos serão bem vindos, sempre que os convidarmos para tal ou necessitarem do nosso apoio. Estaremos sempre de braços abertos para quem mais precisar de nós. Mas isso não quer dizer que a nossa casa vá pelo mesmo caminho.