Nicolau.
Hoje, a meio da tarde, soube, através de um aluno meu, que Nicolau Breyner tinha morrido. Foi mais um daqueles choques. Este é um daqueles casos em que o desaparecimento de alguém não parece real. Tal como ouvi há pouco, num noticiário, "simplesmente não se concebe a morte de Nicolau Breyner". É um pouco isto.
Não me vou desdobrar em muitas palavras, mas uma pessoa deste calibre, que sempre fez parte das muitas etapas da minha vida e que consigo relacionar com cada uma delas, morrer desta forma, inesperadamente, sem haver o mínimo indício de que uma fatalidade estava a caminho, deixa-me completamente incrédula. Nem quero pensar no efeito desta morte junto das pessoas mais próximas do ator. É uma dor horrível, mas o facto de ser súbito torna tudo muito mais doloroso, penso.
Perante esta notícia, veio-me logo à ideia o último trabalho que vimos do Nicolau. Foi no filme "Os gatos não têm vertigens" - filme muito bom e claramente maltratado, ao qual muita pouca justiça se fez - em que ele interpreta [alerta Spoiler!] o marido desaparecido que uma viúva dedicada insiste em manter vivo, com quem dialoga e chega quase a manter uma vida a dois imaginária, enquanto o marido falecido lhe "diz" continuamente que ela tem de seguir a vida e deixá-lo ir. Ironia das ironias. Parece que agora somos nós que quase não o queremos deixar partir.
Enfim. Um dia triste e a constatação que isto tudo é mesmo um instante. Esta vida é um enorme ponto de interrogação mesmo.