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Verde Vermelho

Podia ser um blog sobre Portugal. Podia ser um blog sobre mim. Podia ser um blog sobre coisas boas e más. Podia ser um blog humorístico. Podia ser um blog a tentar ser humorístico. Podia ser um blog sobre qualquer coisa. Pois podia.

Verde Vermelho

Podia ser um blog sobre Portugal. Podia ser um blog sobre mim. Podia ser um blog sobre coisas boas e más. Podia ser um blog humorístico. Podia ser um blog a tentar ser humorístico. Podia ser um blog sobre qualquer coisa. Pois podia.

22 de Fevereiro, 2017

No meu tempo não era assim que funcionava, caramba!

Joana

Conta-me hoje uma colega de profissão que uma aluna - de 10º ano, atenção! - desmarcou uma aula que, normalmente, decorreria às quartas feiras de manhã, tendo (sem que alguém lhe tenha pedido) justificado que tal se devia ao facto de nesse dia, 1 de março, ser o aniversário do Justin Bieber. Sim, leram bem. A aluna de secundário cancelou uma aula por ser o dia de aniversário do Justin Bieber.

 

Ele vem ao aniversário? Não.

Ele vem dar um espetáculo em Portugal no dia do seu aniversário? Não.

Ele sabe da existência destas raparigas? Não.

Ele vai-se lembrar do seu aniversário, tal é a quantidade de substâncias tóxicas que lhe circulam nas veias? Provavelmente não.

 

Se são pessoas racionais e razoáveis como eu penso que sou, aposto que vos estarão a circular pela cabeça dezenas de perguntas que, de tão ridículas, nem conseguem ser pronunciadas. Isso eventualmente associado a vários esbugalhares de olhos e torceres de testas é o que - imagino - estarão a fazer neste preciso momento, face à incredulidade desta justificação. Não se sintam mal, eu não fiz diferente.

 

À parte de tudo o que nem consigo dizer sobre isto, dei por mim a pensar que nunca, nem em criança, adolescente ou adulta falhei (ou fui autorizada a falhar) compromissos de estudo e trabalho por motivações tão vazias de conteúdo. No entanto, há que reconhecer que esta miudagem tem imaginação e que esta é uma justificação a ponderar daqui a uns 10 anitos, quando esta geração estiver a trabalhar (se estiver). No fundo, eles terão vivido o mesmo, certo? E o pior é que vão achar que isto faz todo os sentido. Vai ser uma alegria.

 

 Ahn, ahn... right.

 

 

[Ao menos isto serve-me para perceber que a minha juventude afinal - e ao contrário do que eu tantas vezes considerei - foi mesmo de categoria. Não queria ser jovem nos dias de hoje nem que me pagassem, essa é que é essa.]

21 de Fevereiro, 2017

Acabo de saber.

Joana

O puto da Maia que andava desaparecido foi encontrado morto esta manhã, no rio Douro. Fiquei chocada. Não acreditava neste desfecho. Achava que era mais uma fuga de adolescente, num qualquer laivo de rebeldia. Mas não, os piores receios confirmaram-se.

Este é um entre muitos, bem sei, mas toca mais porque é pessoa conhecida dos meus alunos e de colegas professores. Porque é daqui e mora a centenas de metros de onde estou. Porque conseguiu mover toda a cidade na sua busca. Porque era acarinhado. Porque era um puto com problemas, mas sempre de sorriso aberto para toda a gente. E porque era um miúdo cheio de negras na alma e que arcava com o mundo às costas e ninguém deu conta disso.

 

Soube há minutos. Estou gelada com o choque.

20 de Fevereiro, 2017

Quem te manda a ti falares português?

Joana

Sábado à noite, a passar rapidamente pelos canais de televisão, vejo que estava a dar o Masterchef Brasil. Nunca gostei particularmente desta versão, sobretudo porque é, de facto, difícil destronar o programa australiano, mas também porque nunca senti grande empatia com aquela chef italiana e com o senhor de sotaque francês, que se acha o Ramsey lá do sítio. De repente, qual não é meu espanto ao ver por lá um participante português que, sempre que fala, é "brindado" com duas benesses: os júris são, invariavelmente, parvos para com ele e, sempre que o candidato português fala, leva com legendas, não vá o povo brasileiro achar que ele está para ali a dizer coisas em russo. Ou seja, para além de dizerem mal do que ele faz - que até pode, atenção, ser mesmo mau, mas nem assim seria merecedor de algumas palavras -, ainda fazem de todos os portugueses um povo estranho e manifestam lacunas muito graves no conceito de "país irmão" que tanto insistem que somos. Sim, eles que falam... ora deixa cá ver... ah, pois é... português!

Ao que me apercebo, não estou a dar grande novidade e este tema tem sido discutido e tem levantado grande celeuma por esse mundo (em rede) fora. Acho que a merece, de facto. Não sou nada fundamentalista e até me considero uma pessoa bastante razoável, mas também reconheço que legendar a fala de um português para um público-alvo brasileiro é patético e até quase insultuoso. Nem que ele falasse com sotaque forte. Mais depressa poria essa tradução na fala dos dois chefs estrangeiros, jurados do programa. Mas seria muito menos divertido para eles. Enfim, triste, no mínimo.

 

 

17 de Fevereiro, 2017

Ajudar o próximo?

Joana

Ontem, numa ida ao banco à hora de almoço para levantar dinheiro, entra uma senhora muito velhinha numa cadeira de rodas, acompanhada de uma mulher relativamente jovem, com os seus 35/40 anos. Ao perceber que os balcões estavam fechados àquela hora, a rapariga disse:

- Está fechado.

 A senhora idosa, claramente limitada a vários níveis pela idade, respondeu simplesmente:

- O quê?

Este diálogo repetiu-se, penso, umas cinco vezes, sendo que da terceira para a frente a acompanhante gritava com a senhora idosa, cada vez de forma mais aguerrida. Eu, que estava virada para a caixa multibanco, não consegui conter-me e olhei para trás, para tentar perceber que erro fatal estaria a senhora na cadeira de rodas a cometer, para merecer tal rispidez da mulher que a acompanhava. A verdade é que não estava a fazer nada, nem tão pouco era daquelas pessoas idosas que vê a sua idade como um posto que lhe permite desconsiderar os que a rodeiam. Não. Era uma senhora bem arranjada [daquelas senhoras bonitas, maquilhadas e sempre com as unhas e o cabelo impecáveis, estão a ver?], delicada e simpática, sempre bem educada para com as poucas pessoas que encontrou pelo caminho até ao banco. E a rapariga ali, toda alterada pelo facto de o banco estar fechado e de ainda ter de ficar responsável por aquela senhora. Tudo piorou quando a mulher fez uma espécie de "Pff", enquanto deu um risinho patético e revirou os olhos, depois de a senhora lhe ter perguntado uma última vez "O quê?", antes de desistir de tentar perceber. Fiquei de coração partido. Não sei se a acompanhante era familiar ou uma auxiliar da Junta de Freguesia ou de algum lar, mas que raio de critério existe na seleção dos cuidadores? Que pessoas são estas? Terão perdido os seus valores, ou nunca os tiveram? Acharão que vão ter sempre saúde e que nunca precisarão de alguém? Como podem as pessoas sentir-se bem a gritar de forma enervada para alguém que nunca as desrespeitou e que, mais do que ninguém, sofre com as suas limitaçãoes? Fiquei de rastos. Aconteceu ontem e ainda não consegui esquecer aquela imagem. Talvez por choque, não consegui interferir e calar a "cuidadora" e limitei-me a esboçar um sorriso terno com a senhora idosa e a desejar-lhe uma boa tarde. Foi quase em surdina, mas obtive uma resposta e um sorriso de volta. Talvez isso signifique bem mais do que todas as palavras que possa escrever a expressar a dor que senti.

13 de Fevereiro, 2017

Eu não sou uma mulher normal.

Joana

Eu não gosto de ir ao IKEA. Não gosto. Ir a este local é só em último recurso e depois de muito estudar a situação com uma valente antecedência. Vale a consciência de que, para algumas coisas, é de facto, muito útil e que não há grande volta a dar. A questão é que, lá por casa, tamanha demanda exige mentalização prévia de alguns dias. Para mim e para ele. Sim, porque não bastasse o estarmos confinados àquele labirinto quente e maçador durante horas, ir ao IKEA exige a grande parte das mulheres (não serão todas?) uma dose extra de paciência para aturar a impaciência dos seus respetivos ao fim de... 10 minutos! Vai daí, posso considerar que nos portámos bem. Não nos desentendemos - o que, tendo em conta todo o contexto, é um ganho considerável - e conseguimos sobreviver e mantermo-nos casados e relativamente felizes, fazendo compras sensatas e bem (demasiado bem, diria, pelo tempo que lá passámos) pensadas.

 

É uma satisfação valente ver as coisas lá em casa dentro dos caixotinhos e embalagens cheias de códigos e instruções, que é; mas o chegar até lá é que é o tormento. Enfim, foquemo-nos no que vem a seguir e que, para o J., que adora tudo o que é LEGO, é o maior relaxe possível ao fim de um dia stressante de trabalho. Ao menos isso.

 

Maze2.png

 

 

 

[Ah, e percebi que o IKEA abriu uma loja online há relativamente pouco tempo. Já não era sem tempo! Será o fim dos meus / nossos tormentos?]

 

 

 

 

09 de Fevereiro, 2017

A vida corre, corre, corre.

Joana

Estes dias não têm sido fáceis, de tanta coisa que tem acontecido. É a minha empresa, é a nossa casa, são as reuniões decisivas, são as gripes e crises de coluna, é a saúde de terceiros, é a gestão da casa, é o nascimento de bebés de amigos, é o querer terminar o dia e descansar e não conseguir parar, são os 37 emails e chamadas a fazer (que já deveriam ter sido feitos), é a lembrança de mais umas quantas coisas a fazer para ontem, é o blogue, é o não querer falhar, é o dormir mal e é mais alguma coisa de que me lembre entretanto. Enfim, fases. Mas a vida corre - bem ou mal, mas corre. Apesar de estar a conseguir controlar tudo melhor, tenho de fazer com que isto não perca o ritmo e com que continuemos a conseguir levar tudo nos eixos. E sim, ainda não sou mãe.

Ser-se adulto não é nada fácil, mesmo. Mas acredito que, do outro lado, estão coisas muito boas à nossa espera.

 

(Claramente, preciso de uma destas!)

 

 

 

08 de Fevereiro, 2017

Diálogos entre cadernos e lápis.

Joana

Conversa quase em surdina entre alunos, um de 8 anos, outro de 10, depois de eu ter dado um raspanete ao primeiro e de ter ameaçado que faltava muito pouco para ele me ver chateada a sério:

 

- Como é que é a professora Joana, quando está chateada?

- Não queiras saber, é muito mau.

- Mau como?

- Mau, porque a professora se irrita e fica muito desiludida contigo.

- E isso é mau?

- Sim, porque a professora gosta muito de nós e é exigente connosco, porque quer que sejamos grandes alunos e, ao ouvires o raspanete, percebes que a desiludiste e sentes-te muito mal contigo mesmo. Ficas com um enorme peso na consciência, porque deixaste triste quem te ajuda a seres cada vez melhor. Achas fácil lidar com isso?

- Não sei. Nem sei se tenho consciência!

 

 

Tive de me conter muito para não me rir e manter a postura, quando cheguei perto deles, de novo.

Percebem porque é que eu gosto do meus alunos e adoro a minha profissão?

05 de Fevereiro, 2017

Amor é...

Joana

... ficares numa aflição tremenda quando vês uma notícia de última hora sobre um acidente que envolveu quatro carros e matou uma pessoa e, de repente, perceberes que o teu marido saiu de casa há minutos e passou naquele local. É ficares de coração nas mãos por não haver notícias mais concretas e só existir um vídeo em direto, no site do Jornal de Notícias, onde se vê (mal), entre várias ambulâncias, um carro preto e uns faróis iguais ao do carro do teu marido. É ficares sem reação - nem uma mensagem conseguires enviar, com medo da demora da resposta - e pintares os piores cenários e pensares que aquilo não pode ser verdade. É congelares de medo. E é parecer que ganhaste a lotaria quando ele, do nada, te envia uma mensagem a dizer "Já cheguei. Está tudo bem" e tu constatas que tudo isto é um sopro e que a vida é mesmo feita de sorte e de tempos certos e errados.

 

 

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