Ontem, quando tive a brlhante ideia de ir abastecer o carro a uma bomba de gasolina às sete horas da noite, levei com uma enchente de carros entre a própria da bomba e a caserninha de pagamento. Ando bastante calma - talvez das festas, quem sabe - e levei tudo tranquilamente, sem exaltações. Dei prioridade de passagem a um carro que se estava a fazer de chico esperto na fila e a insistir naquela coisa de carregar no acelerador continuamente, do género "se eu pudesse, já tinha passado por cima destes carros todos e esmagava-os um a um". Como era de uma empresa de venda de salgadinhos e eu gosto bastante de rissóis, chamuças e croquetes (ou talvez porque não estivesse para me chatear), dei-lhe a prioridade que não tinha e até lhe sorri, no gesto de cedência de passagem. Estávamos todos parados, de motores ligados e a gastar os cêntimos que o desconto daquele dia nos tinha sido gentilmente oferecido, mas eu estava bem e calminha. Quando chega a minha vez de ser atendida, levo com isto:
Funcionária: A SENHORA DA PRÓXIMA VEZ NÃO DEIXE PASSAR OS CARROS À FRENTE! O CONDUTOR DO VEÍCULO ANTERIOR PASSOU TODO O TEMPO A QUEIXAR-SE E AINDA SE ACHOU CHEIO DE RAZÃO! NÃO PODE FAZER ISSO! (acrescentem ao perfil da senhora funcionária algumas marcas de personalidade, como olhos esbugalhados, voz num tom muito acima do desejável e com bastante irritação à mistura e cara vermelha como se tivesse levado um par de estalos a uma velocidade francamente considerável).
Eu: Não há problema nenhum. Não vale a pena chatearmo-nos. O senhor foi à vida dele e agora eu trato da minha. Não esperei assim tanto. Não se exalte.
Funcionária: POIS, MAS EU NÃO ESTOU A FALAR DE SI. AGORA VOU TER DE LEVAR COM AS QUEIXAS DE TODOS OS OUTROS CONDUTORES QUE FICARAM À ESPERA! NÃO PO-DE FA-ZER IS-SO!
De repente, enquanto ela lá fazia os pagamentos e deitava fumo pelas narinas (podia ser apenas do frio, não sei), deu-me para olhar para trás e reparar nos tais "outros condutores". Estavam todos a olhar para os telemóveis, calmos, nas suas vidas, provavelmente felizes pela chegada do fim de semana, e nenhum a pressionar. Depois olhei para o monitor da máquina registadora e vi que ainda era dia 5 de janeiro. Só me saiu isto:
Eu: E ainda só passaram cinco dias... Está difícil, isso.
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Acho que nunca mais vou abastecer ali.
Assim como assim, gasto o que poupo. Em tudo, aparentemente.