Bora lá pôr todos os bons festivais no mesmo fim de semana?
Esta deve ter sido a espetacular proposta que passou pelas mentes brilhantes (e claramente febris!) dos organizadores de festivais deste nosso pequeno e caro país.
"- Temos cerca de 50 artistas internacionais que aceitaram vir a Portugal.
- Boa! Em que datas?
- Todos na mesma data. Eles querem aproveitar os preços de grupo nas viagens e restaurantes.
- Espetacular! Assim também despachamos logo isto e podemos ir de férias, quando toda a gente for trabalhar."
[Só pode ter sido (por) isto, certo?]
Este nosso pequeno país, aparentemente, é também pequeno em datas, porque só nestes últimos dias, no mesmo território, houve cerca de 37 festivais a acontecer ao mesmo tempo. Isto até seria relativamente aceitável, porque há muita cidade e muita gente a ter e a precisar de festa, pelo que haveria oferta para todos. O problema está no facto de, só na área do Porto, ter havido, pelo que sei, uns 5 festivais no mesmo fim de semana, dos quais destaco o Tributo a Nelson Mandela e o Márés Vivas. Já nem vou falar de outros, pelo país, nem do facto do EDP Cool Jazz e do Super Bock Super Rock terem sido, também, agendados para o mesmo fim de semana. Ontem estive a apreciar o tempo que um Telejornal dedicou a falar de vários festivais que estão a decorrer nestes dias. Foram mais de 10 minutos. E não se falaram de dezenas de outros, estou certa.
Para mim, marcarem-se tantas festas e festivais (sem serem locais, claro está!) nos mesmos dias é, simplesmente uma falta de respeito pelo público e denota claramente o que move os organizadores. Descobriu-se aqui uma mina de ouro e ala moleiro, o público que se desenrasque. Eu não sou muito fã de festivais e ambientes semelhantes a esses, confesso. Sou mais caseira e não me sinto muito bem a estar horas em pé a ver vários concertos de vários artistas, tudo em filinha indiana. Sou moça de pagar bilhete e ver um concerto do início ao fim do mesmo artista. Coisas minhas. Mas, de facto, acho que havia de haver aqui uma maior consideração pelo público. E não me venham com a treta do "eclético", que não há pachorra para isso. Pode ser eclético na mesma e cada um dos grandes festivais acontecer num fim de semana diferente, não pode?
Surge este desabafo na sequência de termos ido ver, na sexta feira passada, o Tributo a Nelson Mandela. O cartaz era relativamente fraquinho, mas demos uma oportunidade. Primeiro ponto: o Festival decorreu em três dias, de quarta a sexta feira, e começou sempre às 16h30, o que é ótimo para quem trabalha e por si só denota o imenso respeito da organização pelo público. Segundo ponto: os artistas pouca ou nenhuma referência fizeram a Mandela ou à sua história de vida, preferindo atuar rapidinho, que aparentemente não ganharam dinheiro com isso (cof, cof) e estava uma noite gelada como tudo; Terceiro ponto: aquilo que eles chamavam de "cabeça de cartaz", Steven Tyler, revelou ser, sim, uma grande cabeça (no sentido da proporção), mas infelizmente cheia de droga a correr-lhe nas veias. Foi tudo, portanto, um valente flop e a prova disso foi a velocidade a que o públco saiu do recinto, mal o concerto/festival acabou. Nunca vi tal. À saída, ouvi ainda um rapaz a dizer que, naquela sexta feira, estava para aí o triplo do número de pessoas que tinha estado nos outros dias. Sendo que, nessa noite, estariam umas duas mil (se tantas!) lá, não percebo como a organização falou em 40 mil pessoas nos três dias.
Portanto, vamos a conclusões: os senhores das organizações dos festivais têm - fica provado - é grandes problemas a matemática. Não calculam bem os dias, o número de artistas, as horas, os preços dos bilhetes (que chegaram a estar a 100 Euros!) e o número de entradas. Talvez devessem primeiro ler umas quantas coisas, fazer umas valentes horas de estágio e só depois ficar responsáveis pela organização do que quer que seja. Acredito que todos ficaríamos a ganhar com isso. Inclusive respeito.