A data aproxima-se. E as ansiedades também.
Sou uma pessoa calma e, por si só, muito animada. Gosto de viver as coisas a seu tempo, um dia de cada vez e acredito sempre que tudo vai correr bem.
Em relação à gravidez, sempre a levei com a maior das calmas e naturalidades e passei estes nove meses bastante tranquila e feliz. A poucos dias da hora da verdade, as coisas começam a mudar um bocadinho, confesso. O facto de ter de estar mais por casa e em repouso mexe comigo, porque eu não sou muito de ficar parada e sozinha no mesmo sítio muito tempo. O mesmo acontece em relação ao trabalho: sentir que giro toda a dinâmica da empresa à distância (e, sobretudo, forçar-me a isso) é complicado para mim, que costumo sempre ser ativa e interventiva em tudo. Não que não confie em quem lá está ou que tudo vai correr bem; é apenas uma coisa muito minha, com a qual estou a tentar aprender a lidar.
A aproximação da data do parto está a começar a criar alguma ansiedade em mim, é verdade. Tenho sempre receio de que falte alguma coisa, de que me tenha escapado algo essencial e básico e, sobretudo, de que não seja capaz de ser tão prática e expedita como costumo ser. A isto junta-se uma nostalgia, que já me está a afetar, de não mais ir sentir o bebé dentro de mim, os seus movimentos, as reações à minha voz, às minhas (péssimas) cantorias e danças, à voz e brincadeiras do pai e às festinhas e mãos sempre quentinhas dos avós. Também não ajuda eu adorar estar grávida e com uma barriga digna de uma pequena baleia - passo montes de tempo a apreciá-la e a acarinhá-la e, por muitos registos fotográficos que haja, nenhum parece ser fiel à sua verdadeira dimensão. Toda a gente me diz para fotografar muito, registar tudo e aproveitar cada bocadinho, o que, sendo dito com a melhor das intenções, ainda agrava mais um bocadinho este sentimento de tudo estar prestes a acabar.
Também os constantes conselhos de "aproveita agora para dormir" e "façam tudo o que gostam e aproveitem cada momento, porque isso vai acabar em breve e durante bastante tempo" - mesmo se ditos com o objetivo de nos orientar - não ajudam particularmente.
Do parto propriamente não tenho grande receio. Estou mais ansiosa com o antes da coisa. O ter contrações ou o rebentamento da bolsa e ter de aguardar ou não para ir para o hospital. A confusão de me ir arranjar e sair com tudo às costas, não esquecendo de nada. O que nos passará pela cabeça no caminho de carro até ao hospital. Tenho, no fundo, medo de alguma desorientação inicial, que possa estragar, de algum modo, o entusiasmo pelo grande momento das nossas vidas. Sei e acredito que tudo vai correr bem e eu não costumo entrar em pânico em alturas críticas. Se tudo se mantiver como sempre foi, saberei lidar com alguma frieza no momento decisivo e depois toda a enxurrada de emoções me cairá em cima após essa hora. Não seria mau, se assim fosse. Vamos ver como nos saímos.
Neste momento, penso que o que me causa maior ansiedade é a dúvida constante sobre o "quando". Para além disso, sinto o meu raciocínio muito lento e, por vezes, o cansaço físico e mental apoderam-se de mim de repente, do nada, o que também me frustra ligeiramente. Voltei a ter sono a meio do dia. Já estou farta de comer as mesmas coisas e não dever comer outras, por ideias fixas minhas, sobretudo. Não tenho grande paciência para coisas minhas, menos ainda para as dos outros (não é por mal, claro) e estou muitas vezes em modo "só estou bem onde não estou". Acho que tudo faz parte, segundo dizem, e quero encarar isto com a mior naturalidade possível, mas às vezes nem minha grande amiga sou. O que vale é o carinho das minhas pessoas, que não se cansam de mim e me apoiam sempre, mesmo quando estou rezingona e sem pachorra. E, claro, o nosso bebé, que parece adivinhar quando estou mais em baixo e reage sempre que me sente assim, como que a dar alento à mãe e à sua missão. Somos uma boa equipa, no fundo. E tudo há de correr bem.
(Sim, somos nós os três.)