Quer que eu lhe dê...ah, se calhar não!
Eu sou uma rapariga de bom coração. Não é falsa modéstia; é verdade. Tirem as vossas próprias conclusões.
Fui a uma consulta no hospital da minha cidade, que é simplesmente o mesmo que ter a certeza de que vou apanhar uma molha descomunal, se tiver a pouca sorte de estar um dia de chuva (calha sempre, é impressionante!), e que vou pagar muito pelo estacionamento. Tudo isto sucedeu hoje, de facto. No entanto, a consulta foi bem mais rápida do que eu supunha e, quando consegui voltar a entrar no carro (com o devido guarda chuva novo com todas as varetas partidas, com a roupa e os pés encharcados e com um cabelo de que é melhor nem falar), lembrei-me que o meu ticket de estacionamento ainda tinha meia hora para ser usufruído. Vai daí, resolvi esperar um pouco até chegar um carro que quisesse estacionar por ali, o que aconteceu em menos de um minuto. A minha ideia é que esta pessoa não tivesse que pagar nada e pudesse tratar dos seus afazeres, aproveitando a meia hora que eu lhe daria de mão beijada. Feita boa samaritana, ia a sair do carro, a chover a cântaros, para dar o meu ticket ao condutor do tal carro, mas rapidamente voltei atrás nas minhas intenções. O dado senhor é, aparentemente, um rebelde de cabelos brancos e resolveu desafiar o universo, saindo a correr com uns documentos na mão, sem guarda chuva e sem se dirigir à máquina de pagamento. Pensei que aquilo poderia ser uma mensagem lá de cima a dizer-me para estar sossegadinha e deixar de me preocupar tanto com quem não se preocupa consigo mesmo e seguir a minha vida, que tinha muito para tratar. E pronto, segui as ordens, amarfanhei o bilhetinho e continuei a minha jornada. Foi pena. Imagino como terão ficado aqueles cabelos e aquelas folhas que levava na mão. E talvez a cabeça, porque andavam lá os senhores da Câmara a verificar os talões de pagamento, viatura a viatura. Oooops!