Não sei se estão a sentir o mesmo, mas passado praticamente um mês deste difícil isolamento social, sentimo-nos na pior fase emocional desta situação. Urge, por isso, tentar encontrar lados bons neste não tão bom lado assim. Alguns amigos conseguem estas "fugas" na culinária e na atividade física. Nós, francamente, não temos condições para isso. Para cozinhados não temos, onde estamos, grande acesso a produtos, e estamos em gestão doméstica de recursos; para atividade física, nomeadamente para Pilates ou para algum exercício cardiovascular, não temos grande "espaço" emocional. A coisa piora por termos um bebé de um ano em casa, que, sendo a melhor coisa da nossa vida, é também - e dito com todas as palavras - muito exigente e nos deixa esgotados - fisica e mentalmente - por volta das 8 da noite (se não antes!), sem que ainda nos dê noites de sono descansadas. Ou seja, não sentimos que tenhamos disposição para muita coisa. No meu caso, senti que perdi muito do meu humor ou da capacidade de me rir de diversas situações; sinto-me mais "amarga", menos disponível para conversas sem conteúdo ou com pouca substância - aliás, tenho notado muito que isso é do que mais falta me faz. GIF e vídeos de Tik Toks desta vida só me entediam, regra geral. Falta conteúdo que me entusiasme, que tenha mais densidade do que a leveza das coisas que quase todos partilham entre si, nesta fase já por si pesada. Mas eu sou uma pessoa de pessoas, gosto de convívio, não sou nada "bicho do mato" nem fui talhada para "backoffices". Por isso, e particularmente nesta situação, tenho-me sentido muito privada do que me faz feliz, isto é, do meu trabalho, que implica estar à frente de um negócio e lidar com muitas pessoas, e de conversas mais substanciais que o isolamento não facilita. Vai daí, encontrei dois ótimos escapes: a leitura e a escrita. O primeiro sobretudo sobre temas de pediatria (a minha realidade, neste momento). O segundo sob a forma de cartas, no estilo de um diário de bordo para o meu bebé. Para mim, faz muito sentido deixar ao mini J. um testemunho tão real e próximo destes tempos de pandemia, que correspondem ao início do seu segundo ano de vida. Nunca lhe conseguiria transpor em palavras o que estamos a passar e do que o estamos necessariamente a privar e pensei que escrever-lhe seria uma forma de me aliviar a mim dessa dor e de o ajudar a dar, um dia, mais valor às pessoas que terá a seu lado, aos seus amigos, aos seus brinquedos, às suas raízes, à sua vida.
Posso estar mais sensível e isto estar a ser uma ideia bem mais lírica do que qualquer realidade, mas a verdade é que me faz sentir bem deixar-lhe esse pequeno património, a juntar ao diário de bordo e às cartas que lhe fui escrevendo enquanto esteve 9 meses na minha barriga. Se não por mais, pelo imenso amor que lhe tenho e que suplantará este e todos os mais obstáculos que a vida nos resolva criar. Acho que, para uma quarentena que vai em 30 dias e que está a ser estritamente respeitada por nós, ainda não estou com os neurónios totalmente fritos por pensar assim. Vamos ver se me aguento mais uns quantos dias... ou semanas... ou meses...
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