E quando a educadora do nosso filho se acha melhor educadora do que nós?
O nosso filho frequenta, desde os primeiros meses de vida, uma creche. Começámos a busca, tinha o J. ainda três meses na barrriga. Fomos muito criteriosos - mas, ainda assim, simples nos requisitos que sempre considerámos obrigatórios - na seleção do local onde o queríamos inscrever, pensando sempre que, uma vez iniciado o processo, seria para ser levado até ao nivel da pré-escola, sem alterações no "percurso".
O primeiro dia foi muito difícil, claro, mas rapidamente a coisa melhorou. Estávamos muito cientes de que aquele era o passo certo a tomar e sentimo-nos sempre muito apoiados, acompanhados e esclarecidos em todas as dúvidas, receios e inseguranças que tínhamos, como pais de primeira viagem.
O primeiro ano (ou melhor, meio ano, à conta da pandemia) correu muito bem. A sala tinha uma educadora e duas auxiliares. Posso dizer que tivemos a melhor sorte do mundo com uma das auxiliares, que tem, ainda hoje, um amor (mesmo amor!) imenso pelo nosso filho e pela qual eu particularmente nutro um carinho tão, mas tão grande, que a considero minha familiar. A outra educadora não era a pessoa mais querida do mundo, mas era prática, despachada e o nosso filho gostava muito dela, o que facilitou muito o nosso processo de adaptação e aceitação. Já a educadora da sala nunca me "disse" grande coisa, raramente a via ou falava com ela e nem sequer percebia o impacto que ela tinha nos bebés que frequentavam a sala do berçário. Vim a saber mais tarde que ela praticamente não aparecia lá, deixando a gestão de toda a sala a cargo das auxiliares.
Estamos agora no segundo ano e o nosso filho transitou de sala. Com ele passou também a auxiliar que menos nos dizia, entrou uma nova auxiliar que desconhecíamos e manteve-se, infelizmente, a educadora. Se o ano passado sentíamos que ela, na prática, não fazia parte do mundo do nosso filho, neste, embora a sintamos muito mais presente, temos - tenho! - muita mais dificuldade em tolerar a sua forma de estar, o seu discurso quase autoritarista e a sua convicção de ser a dona de verdades inquestionáveis. Para mim, que sou tolerante em relação a ideias opostas às minhas, mas pouco tolerante a uma postura "é assim, porque eu digo que é assim", posso dizer que esta fase está a ser, em termos emocionais, extremamente desafiante para mim. Tenho "engolido" bastantes "sapos", pensando sempre no bem supremo do nosso filho e, por isso, tenho adotado uma posição de "Ok, vou ouvir, assentir e seguir caminho, sem contestar". Para dar uma noção mais real da coisa, posso-vos dizer que a educadora tem uma visão completamente distorcida do que é o nosso filho, atribui-lhe características que ele, claramente, não tem, diz ser uma criança "fraca emocionalmente" (acreditem, é o oposto mesmo!) e, perante a nossa indignação, ainda nos diz "Eu passo mais tempo com ele durante o dia do que os senhores". Chega, inclusivamente, a insinuar que, pelo facto de as opiniões do pediatra sobre alguns assuntos em particular não serem concordantes com as suas, o médico está velho e ultrapassado nas suas ideias. Se são pais, penso que perceberão o quanto isto mexe connosco e nos revolta. Vale-me eu ter a capacidade de, depois de me enervar com as situações (mesmo se não as exteriorizando), conseguir transformá-las na minha cabeça em algo passível de ser gozado. E é isso que tem acontecido. Tento relativizar tudo o que esta educadora nos diz, todos os seus comentários menos corretos e todas as suas atitudes que mais nos incomodam. Mesmo o trato com os pais (penso que não será só connosco, mas ninguém se "queixa") é muito estranho, frio, lacónico e brusco. Pode até ser dotada das melhores competências, mas possivelmente só daquelas nos manuais e pouco das reais, no dia a dia, de âmbito social e emocional.
O nosso filho ainda não tem a capacidade de se expressar de forma clara, pelo que temos de acreditar - e acreditamos, porque vemos quão bem anda, está, socializa e a alegria que tem quando vai para a creche - no que as auxiliares nos transmitem. Mas o essencial é o que nós vemos - um menino feliz, expansivo, brincalhão, curioso, inteligente, muito respeitador, saudável e carinhoso. E isto após um segundo período de confinamente extremamente complicado para nós, por questões pessoais e familiares que nos limitaram a um ponto difícil de imaginar.
Tem sido também uma dor de crescimento para nós, pais, aprender a aceitar esta situação. Mas é um processo que se consegue levar a cabo, se nos focarmos naquilo que é a nossa realidade, a nossa caminhada e o nosso dia a dia e não nos deixarmos levar por estas vozes que se acham superiores, mas estão, quanto muito, em paralelo connosco e nunca acima de nós.
Perguntar-me-ão, então, por que motivo não mudamos o nosso filho de creche. Porque gosta de ir e estar lá, porque tem os primeiros amigos da sua vida lá, porque todos os dias vê, pela porta de vidro, a auxiliar que já se tornou família e lhe atira beijinhos, porque adora as auxiliares da sua sala e fala delas a toda a hora e lhes tem imenso respeito, porque está num ambiente onde se sente seguro e acolhido e porque é feliz lá! Para nós, como pais, a confiança de saber que o nosso filho está bem e que é feliz vale o sacrifício de aguentar com todos os comentários e posturas desadequadas da educadora que, na verdade, passa, no máximo, umas duas horas diárias com ele e com as restantes crianças, mas que se sente melhor "leitora" da sua personalidade do que os próprios pais e mais pediatra do que o nosso excelente pediatra.
Valha-me a satisfação de saber que só teremos de aguentar mais uns meses e logo virá uma nova educadora bem melhor do que a atual. Sobretudo, doce. Como ele. Como nós tentamos ser.
Portanto, foco na meta! Só assim vamos lá.