As crianças dão-nos 10 a 0 em tanta coisa.
Uma aluna minha, com os seus 10 anos feitos há dias, perante a constatação de que não percebia uma matéria muito específica, que exigia tempo de explicação (que eu não tinha) e bastante de prática, entrou em total modo de ansiedade, que quase começou a chorar de desespero, apesar de ter tentado disfarçar perante dois colegas com quem estava a estudar. A causa é o ser exigente demais consigo mesma e de não querer nunca tirar más notas. Por mais que a tenha tentado fazer perceber que não podemos sempre ser brilhantes ou exigir de nós mesmos o que não é possível, se não há espaço temporal para isso, ela despediu-se de mim com o semblante mais pesado do mundo, como se tudo estivesse perdido. Pedi, entretanto, a uma colega que me arranjasse alguns apontamentos que explicassem da melhor forma, dentro do que é possível, a matéria e reencaminhei-as para a aluna, para que desse uma vista de olhos e se sentisse mais segura para o dia seguinte.
Regressei a casa com alguma tristeza, por não ter conseguido tempo para a ajudar, mas tentei relativizar e pensar que tínhamos feito o melhor por ela, dadas as condicionantes de tempo.
No dia seguinte, estava já a aluna instalada a estudar, chega um dos colegas que estava com ela no dia anterior e que tinha assistido ao seu desespero. Ele, que está um nível escolar à frente dela, tira um caderno e um livro da mochila e diz-lhe:
- Toma, L., trouxe o meu caderno e o meu livro do ano passado para te ajudar a estudar a matéria em que sentiste dificuldade. Tens aí exercícios resolvidos e as explicações todas tim-tim por tim-tim.
Fiquei embevecida (quase emocionada) com a atitude e elogiei muito o rapaz e a iniciativa totalmente espontânea de ajudar a amiga. Dela recebeu um enorme "Obrigada!", um passou-bem em tom de brincadeira e um "És tão prestável... És mesmo um bom amigo, J!".
Digam-me se nós não aprendemos com as crianças. Pode até correr tudo mal, mas depois, do nada, surgem estas lições. Andamos neste mundo a pensar que sabemos tudo e, às vezes, nao percebemos é nada disto. Eu recebo sempre qualquer coisa destes miúdos, todos os dias. Dão-me muito cabo da paciência e 90% dos meus (muito poucos) cabelos brancos devem-se a eles, mas... adoro-os e aprendo muito com eles! E fico mesmo um pouco mais rica todos os dias por isso.