Cultivar as amizades.
Uma das coisas de que o J. mais se queixa atualmente, e que muito piorou, a seu ver, durante a pandemia, o confinamento e o necessário isolamento e distância social a que estes dois últimos anos nos obrigaram, foi as suas amizades.
Se falar com ele sobre este tema, a pergunta que lhe sai no imediato e sem qualquer filtro é: "Quais amigos?". Tento fazer-lhe ver que, de facto, os verdadeiros amigos se mantêm, apesar de tudo, mas ele tende a focar-se nas ligações que se perderam e que ele sente - pelo que as pessoas têm vindo a revelar ser - que não deva ser ele a tentar restabelecer. Em parte, concordo, mas, por outro, nunca fui muito adepta do "olho por olho, dente por dente". Se gostarmos de uma pessoa e sentirmos que a queremos na nossa vida, não é porque a outra parte não cuida nem revela grande lembrança de nós, que deveremos fazer o mesmo. Talvez por isso eu não sinta que perdi amizades com a pandemia. Sei que fui e fomos muito criticados por nos forçarmos a estar mais isolados, mas também não me importo com isso, porque realmente sei o que faz sentido para nós e para que nos sintamos seguros e bem. E quem é, de facto, amigo, até pode questionar e discordar, mas respeita e não se afasta por isso.
A verdade é que as amizades têm de ser "regadas" e cuidadas, como se de uma relação de amor se tratasse. Não é preciso estar sempre em contacto, mas é necessário estar atento, valorizar, parabenizar, querer saber do outro e mostrar que os dois lados importam - o de cá e o de lá. Se a pandemia quebrou algumas relações de amizade, talvez fosse porque não eram reais, mas "maquilhadas" e apenas disponíveis para os bons momentos. E que falta fazem estas ligações na nossa vida? Na minha, nenhuma, na verdade.
A pandemia serviu, em termos de amizades, para distinguir o trigo do joio. E digo-vos: muitos poderão ter-se sentido defraudados e até traídos, mas eu não fiquei nada surpreendida com o resultado deste grande teste às nossas vidas. Os verdadeiros amigos, que quero levar comigo para sempre, nunca saíram e até ganharam mais raízes no meu coração. E isso é que importa.