E depois há aquelas pessoas que, claramente, têm 7 vidas...
Fiquei a conhecer ontem, num intervalo de uma formação, uma história de vida de uma rapariga que me deixou de queixo caído. Não conheço (ainda) bem a pessoa em causa, mas posso dizer que terá pouco mais de 30 anos e é uma lutadora. Tudo no que contou me fez ver que, confirmando o que eu sempre digo, devemos mesmo ser muito gratos pela vida que temos, seja ela melhor ou pior que a do vizinho do lado.
Não vos querendo maçar com grandes palavreados, resumo a história do seguinte modo: esta rapariga nasceu com uma malformação nas trompas e, aos 21 anos, numa primeira visita à médica ginecologista, foi-lhe detetado um cancro em estado bastante avançado (digamos que avançou ao longo desses anos de vida). Passou por quimioterapia, radioterapia e esteve quase a perder a batalha. Ficou totalmente careca e cadavérica. Sobreviveu. Ficou, no entanto, a saber, logo após a recuperação e na flor da idade, que deixaria de ter qualquer hipótese de ser mãe. Uns 2 anos depois, teve uma infeção grave e quase amputou uma perna. Foi por pouco que tal não aconteceu. Numa outra situação, como é alérgica a um componente específico de certas anestesias (e não o sabia até então), sentiu-se mal, começou com convulsões e quase ficou na cama do hospital. Por causa disto, já levou pontos a frio duas vezes, numa das quais desmaiou com as dores. Finalmente, há cerca de 6/7 anos teve um acidente de carro provocado por putos que queriam assaltar carros que passavam à noite numa estrada nacional, obrigando-os a parar, perdeu a direção do carro e caiu numa ravina com mais de 10 metros, onde, encarcerada e num estado de dormência mental e quase desfalecimento total, esperou por ajuda durante 3 h, 2 das quais ainda consciente. A única coisa que pensou em fazer foi estar quieta - pois o carro poderia cair mais uns metros e despenhar-se - e dar continuamente sinal de luzes, para qua alguém a visse no meio da escuridão, porque era a única coisa que ela, com 3 vértebras partidas e toda cheia de sangue, conseguia alcançar no carro para chamar a atenção. Passadas as tais 3h, um helicóptero detetou-a e pessoal especializado desencarcerou-a e levou-a para o hospital.
Agora digam-me se têm coragem de afirmar que têm uma vida de azar. Eu nunca acho que a minha vida seja azarada, mas, por vezes, como qualquer pessoa, dou por mim a desanimar perante o rumo das coisas. E depois, quando tudo está mais em baixo, eis que a vida parece querer "espetar-nos" com estas evidências na nossa cara, numa espécie de wake up call. E se o consegue! Acho que encontrei, definitivamente, mais um bom exemplo de vida. Impressionante e chocante ao mesmo tempo, mas tão esclarecedor.
Talvez nos valha a pena apostarmos, acreditarmos e lutarmos mesmo por esta vida, porque tudo à nossa volta, a qualquer momento, nos faz acreditar que, se não for essa resiliência a comandar-nos, só mesmo os gatos conseguirão sobreviver a tantas provações. E nós, claramente, não somos gatos.