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Verde Vermelho

Podia ser um blog sobre Portugal. Podia ser um blog sobre mim. Podia ser um blog sobre coisas boas e más. Podia ser um blog humorístico. Podia ser um blog a tentar ser humorístico. Podia ser um blog sobre qualquer coisa. Pois podia.

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22 de Junho, 2017

E quando amar não chega?

Joana

Estou, neste momento, a ser testemunha de um casamento que está muito perto do seu fim. Não é o meu, não. Mas é o de alguém que conheço bem, com quem já partilhei muitos anos da minha vida e que está cansada de lutar. Está exausta de tanto tentar e de se esforçar continuamente para que a outra parte não deite a toalha ao chão.

Pausa.

Só aqui falha o conceito, penso. Ninguém tem de lutar pelos dois. O casamento é um compromisso de duas pessoas que têm o mesmo propósito e foco. Se uma delas deixa de os ter, então a batalha começa a desenhar-se fatal.

 

 

 

Falávamos há dias sobre o assunto e esta pessoa dizia-me que sempre tinha dado o seu máximo - e acreditem que fez mais do que até a própria achava ter feito - e que, do outro lado, havia uma espécie de aceitação pacífica desse empenho, sem grande gratidão visível ou gestos que provassem um particular reconhecimento. Parecia que era suposto ser assim. Mas não era, nunca é. Nada deveria ser "suposto" num casamento. Tudo se deve construir e esclarecer e nada deve ser subentendido. E se o for por acaso, que seja de imediato clarificado o que agrada e desagrada e o que deverá, para aquele casal, ser "suposto" para a sua vida funcionar.

 

"Eu amo-o" - diz-me esta pessoa. Sim, mas o tom com que a expressão lhe sai da boca já não carrega paixão e entusiasmo de outrora - o que até seria natural, porque esse "fogo" se vai desvanecendo, mas em vez de dar lugar a um amor sólido, deu espaço a um desencantamento e a uma sensação de desistência. Ama-o, mas com um tom de voz carregado de hesitação e alguma condescendência.

 

"E se amar não chegar?" - pergunto eu. E fez-se silêncio.

 

Amar, de facto, não chega. O amor sozinho nunca chegará. Há que haver cedência e entrega das duas partes. É preciso entusiasmo e respeito. O outro tem de ser uma prioridade e se o nosso "amor" por esse outro falhar e o entusiasmo de estar com ele se desvanecer, então que o respeito não falhe e que haja a sinceridade para dizer a verdade e para abrir caminho à felicidade de quem já se amou.

Para mim, que sou uma eterna romântica, é difícil aceitar estas mudanças súbitas de caráter - ou, grande parte das vezes, apenas o verdadeiro eu a vir ao de cima, depois de anos disfarçado atrás de uma máscara - e faço por acreditar que há fases mais complicadas, que são intensificadas pelas rotinas e pelos cansaços. Por outro lado, por mais otimista que seja, sou também bastante racional e entendo que, muitas vezes, amar não é suficiente. Aliás, até é muito pouco.

 

Uma das coisas que mais me impressionou nesta conversa que tivemos foi a noção da aceitação. A pessoa com quem falei está "a aguardar" pela decisão do outro, algo que nem consigo conceber, mas está a encarar bem a ideia que um divórcio estará a caminho. Não há filhos, o que ajuda ao processo, mas nem assim consigo entender esta tranquilidade. No entanto, valorizo, de facto, a capacidade dela de ver que as coisas não funcionam, que um pode estar a empatar o outro e que ambos merecem ser felizes. Talvez por saber que dificilmente conseguiria lidar com uma situação semelhante da mesma forma, tenho-me sentido um pouco abalada com esta notícia, mas compreendo quem tem a sensatez e a objetividade para ver o casamento como uma história que tem o seu início e que terá um fim bem fechado, em paz e sem espaço a recomeços, quando as coisas começam a não funcionar.

 

Eu ainda acredito no casamento. No amor e em tudo o que alimenta o amor. Ainda acredito que há amores para a vida, indestrutíveis, e que só são interrompidos pela morte. Mas também acredito que há amores que só são eternos enquanto durarem. E há que aprender a viver com isso. Mesmo que achemos que isso nunca será o nosso caso.

 

 

 

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