Portugal ser considerado o melhor destino turístico do mundo é mesmo uma coisa boa?
No passado dia 1 de dezembro, Portugal foi eleito, pelo segundo ano consecutivo, o melhor destino do mundo, no âmbito do turismo, pelos World Travel Awards - basicamente, os óscares do turismo mundial. Lisboa foi ainda considerado o melhor destino do mundo para um City Break e a Madeira como melhor destino do mundo insular. No próprio dia, percebi que nas redes a notícia foi amplamente divulgada e partilhada como um enorme motivo de orgulho luso e senti-me um pouco diferente da maioria.
Perante esta notícia, a minha reação foi de algum ceticismo. Talvez por viver muito perto do Porto e por me sentir cada vez mais desiludida por perceber que a minha cidade de sempre perdeu, nos últimos anos, muito do que tinha, para se "vender" a um universo estrangeiro, não recebi esta notícia com grande entusiasmo. A verdade é que - e referindo-me particularmente ao Porto - por me ter apercebido de como, nos últimos anos, a cidade tem ficado cada vez mais estrangeira e menos portuguesa, e cada vez mais turística ao invés de manter a sua essência, me tenho desiludido continuamente. Antigamente, tinha por hábito fazer passeios pontuais ao Porto e explorar os cantinhos da cidade a pé, mas fui deixando esse projeto para trás, porque as coisas mudaram muito - e para pior. Lanchar ou jantar no Porto tornou-se um luxo, os menús mudaram muito e são cada vez menos concordantes com a tradição tripeira, não há uma rua sem um hostel, cada vez há menos moradores portuenses e mais airbnb, ... Enfim, há uma massificação quase doentia do turismo e sentimo-nos todos ovelhas do mesmo rebanho a ser encaminhados para os mesmos locais de recolha e pastagem. E eu detesto sentir-me assim.
Se isto acontece no Porto, a minha impressão é que em Lisboa a coisa está mesmo pior. Há uns dois ou três anos fui à capital pela última vez e, apesar de genericamente ter gostado, não me identifico nada com algumas realidades. Mais uma vez, senti que a cidade tem vindo a perder a sua essência, para se "mostrar" e vender a um universo estrangeiro, que alimenta os seus bolsos - e o seu orgulho.
Se ganhar estes prémios, como forma de reconhecimento, é bom ou mau, não sei bem dizer. Sinto-me orgulhosa por sermos mundialmente distinguidos, mas receio que o efeito perverso da coisa se possa vir a revelar. O país de brandos costumes e à beira-mar plantado começa, agora, a ser redescoberto e a aparecer nas machetes mundiais. A tranquilidade e paz que nos caracterizam vão, progressivamente, ficando "perturbados" com estas distinções e receio mesmo que possa atrair o que não deve para o nosso canto. Fora tudo o que pode daqui advir, temos um pouco da nossa identidade a ficar lentamente para trás e a ser substituída por valores que apenas fazem brilhar os olhos dos poderosos deste país e frustram muitos dos que realmente gostam do que é seu, desde sempre.
Não sou uma pessoa pessimista, mas neste tema em particular tenho muitas dúvidas quanto à emoção que deve acompanhar estes prémios. Talvez um leve sorriso e alguma cautela bastem. Não sei. Oxalá esteja enganada.