Se não sabemos, não troçamos. De acordo?
Ouvi hoje na rádio o tema "Scratch my back", da Aurea, e lembrei-me de repente da minha indignação com algumas pessoas, há alguns anos, quando esta música saiu e se tornou recorrente nas rádios. Recordo-me que, de repente, toda a gente troçava desta música por, aparentemente, dizer "Coça-me as costas". De início, achei graça, porque pensei que as pessoas pudessem estar a brincar com a situação e a tradução literal teve por isso, e até certo ponto, piada. Deixou, no entanto, de a ter, quando me comecei a aperceber que as pessoas não estavam a troçar, mas acreditavam, de facto, que era isso que a letra queria dizer. E gozavam com a Aurea e com a música portuguesa.
Eu convivo bem com o facto de não termos todos a mesma formação ou conhecimento sobre as coisas - das mais mundanas às mais rebuscadas. Mas não sei lidar com este tipo de ignorância que troça porque os outros o fazem e porque acha que tem piada seguir incondicionalmente e de olhos fechados quem o faz e (acha que) consegue destacar-se com isso. Para mim, até consegue - mas não no lado positivo. Não gosto da ignorância. E não são precisos cursos ou douturamentos, porque há muita gente formada pelos livros e muito pouco pela vida, que falha constantemente em princípios básicos de convivência. Não gosto que não haja curiosidade em perceber as coisas, em tirar dúvidas e em questionar o que os outros nos dizem. A cultura que me importa é, de facto, a do respeito e cidadania, menos a dos livros. E aqui, claramente, eu fico a perder, porque dou conta que aquilo que mais valorizo está em clara desvantagem para aquilo que os outros valorizam. E como é triste perceber que a humildade de não saber dá tantas vezes lugar à mania que se sabe. É só fazer uma pergunta adicional "fora do baralho" e é ver toda esta "construção" a desmoronar-se pelas mãos de quem a quis erguer à viva força.
Triste.