Vamos ser educadinhos, andem lá!
Tinha um colega que dizia que o verdadeiro caráter de uma pessoa se revela ao volante. E acaba por ter razão. Dizia ele que, mesmo a pessoa mais educada, facilmente se "desmanchava" enquanto conduzia e tudo o que ela realmente era viria, nesse contexto, sempre ao de cima, pois o filtro perde-se a partir do momento em que nos sentamos no lugar do condutor. De certa forma, dou-lhe razão, porque há ali qualquer coisa na condução que nos tira, efetivamente, algumas camadas de sensatez e nos faz disparatar sem grande limite.
Eu sou uma pessoa bastante calma ao volante, mas confesso que, de vez em quando, me enervo com a burrice de alguns condutores. É a falta de raciocínio a conduzir que me incomoda, pouco mais. O problema é que esse pequeno grande pormenor impera por muitos lados e pessoas. Considero-me uma boa condutora, sensata e disponível para facilitar a vida dos outros condutores. Mas há pessoas e pessoas - e dias e dias - e nem sempre a coisa é tão tranquila como desejaria. No entanto, pauto sempre a minha condução (e vida, genericamente) pela cortesia, porque acredito que ela abre portas a um bem estar que, efetivamente, me sabe bem.
Não há muitas coisas que me agradem tanto - e surpreendam, infelizmente - do que ver a boa educação ao volante. Uma pessoa que nos faz delicadamente um gesto de prioridade, que nos faz aquela leve inclinação de cabeça e nos sorri para nos dar passagem, que nos dá os quatro piscas em tom de agradecimento ou que nos agradece sempre que lhe é dada a prioridade ou passagem é logo outra coisa. Isto aplica-se a condutores e peões. De tão rara que é, esta educação e cortesia tornou-se, aos poucos, em algo digno de nota e que, quando surge, nos deixa um certo conforto no coração. É triste, eu sei, mas esta coisa do cosmopolitanismo, da vida acelerada, da formiga a ir no carreirinho faz-nos levar a coisa num estado tão "adormecido", quase em piloto automático, que nos faz esquecer o que é importante. E a delicadeza é e será sempre importante - haja a pressa ou o stress que houver. Não custa nada sermos bons cidadãos e respeitarmo-nos, ao invés de levarmos os nossos batimentos cardíacos aos píncaros e despejarmos listas de palavrões sem dó nem piedade, por tuta e meia. A educação tem sempre lugar. Sempre. E os nervos ao volante são sempre dispensáveis. Deixemo-nos, pois, de desculpas.
E vocês? Como condutores, como se definem?
[Um dia destes, ainda lanço um movimento nacional em defesa da cortesia na condução. Registem.]